quarta-feira, 11 de agosto de 2010

futurama

Costumo viver o presente e voltar os olhos pro passado. Raramente me adianto no futuro. Não significa com isso que eu queira viver tudo que eu desejo em cada manhã que eu acordo como se não fosse haver outra. Tenho alguma fé de que outros dias virão (sim, porque como minha antiga analista me disse, sabiamente, em uma sessão na qual eu reclamava da minha falta de fé: “viver já é um ato de fé” – essa frase mudou muita coisa em mim. Como eu não tinha realizado isso antes? Claro que viver é um ato de fé, pois não há nada mais que garanta nossa estadia por aqui no próximo minuto e ainda assim marcamos compromissos para o dia seguinte, ou para a semana que vem. Temos, portanto, fé que iremos estar aqui ainda). Também, mesmo que o mundo fosse acabar amanhã, eu não tenho nenhum ímpeto de sair por aí realizando todas as minhas fantasias. Aliás, se o mundo fosse acabar amanhã eu teria muito mais preguiça das minhas fantasias do que já tenho. Eu ia querer mesmo é me agarrar com toda a força ao que existe de mais belo e poético na minha realidade para não pirar de vez com a perspectiva do fim. Como eu já deixei claro aqui, em textos anteriores, “meu sonho é ser imortal”, citando Rita Lee. Para dar um exemplo a vocês de que sou chegada a uma boa dose de presente, diante da suposta chegada ao fim, eu não pensaria de jeito nenhum no que não fiz (futuro). Pensaria certamente em tudo que fiz e o que eu tenho no momento para me consolar na constatação de que muito recebi e que realizei o que pude. Não quero levantar bandeira nenhuma sobre minha opção/habilidade de viver o presente, apesar de já ter ouvido muito por aí de que esse seria o comportamento ideal para uma vida mais agradável e em paz. Acho que cada um vive o tempo como dá para viver e como doer menos. O importante é não virarmos refém da coisa e sabermos o preço que estaremos pagando ao nos entregarmos a viver do passado ou estarmos sempre na expectativa de um futuro que não chegou. E, para mim, pagar um preço justo por qualquer uma dessas escolhas significa não ficar paralisado diante delas, ser capaz de produzir, de caminhar por, ou apesar delas: “ficar parado assim é que não pode ser”, agora citando Gil (velha guarda - eu hoje).

Pois bem, meus caros! Nesses dias em que meu presente é de muita doação a minha filhota que acabou de nascer e para meu filho que se depara com a realidade de estar dividindo o amor da gente com a nova irmã, pouco tempo sobra para os outros, e até mesmo para mim. Nesse meu presente, ainda não sei bem por qual motivo, me pego vivendo o tal futuro que, normalmente, costuma não tomar muito do meu tempo. Ele me chega na ansiedade de ver meus filhos mais independentes, de ver minha individualidade ser resgatada, de saber como será nossa logística nesse novo contexto para que as coisas assumam um cenário minimamente confortável para todos. Se já é difícil conceber uma estrutura confortável a dois em um relacionamento, imaginem a quatro! Muitas vontades, desejos e frustrações a serem levados em conta para administrar. A sensação de que nada será fácil, me leva a essa experiência de viver o tal futuro, mesmo sabendo que o fácil ou o difícil só virá a seu tempo, que é quando virar presente. Por hora, me recolho a transformar essa minha atípica vivência de futuro em um momento presentificado nesse texto que divido com quem estiver me lendo. Não estou em boa posição para divagar muito mais sobre este ou qualquer outro tema. Mas, como eu já disse, também não quero ficar parada, refém de um futuro que não chega, saudosa de um passado que eu quero que volte, ou presa em um presente que me limita. Vou buscando, assim, nas palavras temporãs, nas leituras fora de época, encontrar de novo a minha primavera, na tentativa de aprender a esperar e respeitar o seu próprio tempo. Não é uma busca passiva, se vocês podem me entender. Procuro enxergar que não estou nessa estrada parada, mas em um movimento sutil, como o dos seres pequeninos no mundo que, para os grandes, é invisível.