terça-feira, 28 de abril de 2009

a beleza e o exterior

Em o Retrato de Dorian Gray, Wilde escreve:

“A beleza, a verdadeira beleza, termina onde começa uma expressão intelectual. A inteligência é, em si, uma espécie de exagero e destrói a harmonia de qualquer rosto. No momento em que a pessoa senta para pensar, torna-se toda nariz, ou toda testa, ou qualquer coisa horrível”

Já em Platão somente as forças do intelecto seriam capazes de nos conduzir ao mundo das verdades ideais (Santaella). O belo nas artes, ou na natureza seria sempre uma imitação do belo eterno, que não pertenceria ao mundo humano, onde tudo é mimese. Mas a busca da arte seria justamente a tentativa de alcançar este Belo. Já para Aristóteles, o importante seriam os benefícios morais que a arte poderia trazer. Diferente de Platão, “Aristóteles depreciou o papel que a beleza e o amor erótico desempenham na discussão da arte” (Santella para tudo).  Para Santo Agostinho, na medida em que a arte concorde com os preceitos da fé, ela estaria justificada. Citando Umberto Eco, Santaella fala de Santo Tomás de Aquino. Não é porque o nome dele é idêntico ao do meu filho, mas simpatizei demais com as idéias aquinianas.

“Ele entendia a beleza como uma propriedade transcendental e constante do ser. Ser é aquilo que pode ser visto como belo. Todos os seres contêm as condições constantes da beleza, uma vez que o universo, como obra de seu criador, é necessariamente belo, uma enorme sinfonia de beleza.” (Santaella novamente)

Para ele, o belo é por sua própria natureza prazeroso, desperta desejo e produz o amor, enquanto a verdade é uma luz para fazê-lo brilhar “porque a mente gosta de luz e inteligibilidade”.

O Renascimento, no entanto, retoma a idéia do Belo como separada da esfera moral.

Tenho estudado essas coisas aí. Ainda não tenho muita propriedade do assunto não, mas quero dividir um pensamento com vocês. Sempre tive muito interesse em estética. Estética da Comunicação foi minha disciplina preferida na graduação. Gosto das teorias da arte e tenho mais facilidade de entendê-las do que compreender estética como filosofia. É muito complexo pensar nesses termos. Sempre tem aquela discussão terminada com a frase: “gosto não se discute”. Sócrates pergunta a Hípias de Élis: Como tu fazes, para saber quais as coisas que são belas e quais as coisas que são feias? Vejamos, serias, tu, capaz de dizer o que é o Belo? Lembro pequena, quando brigava com meu pai para que ele me deixasse ouvir Geraldo Azevedo em paz, sem suas críticas. Ele concordava que era melhor do que ouvir axé, mas acrescentava algum comentário sobre meu mau gosto. Eu retrucava com o velho “gosto não se discute” e ele dizia: “Quem te disse? Bom gosto se discute sim. Mau gosto é que realmente não tem discussão”. Ele tentava me explicar que existiam particularidades que faziam o belo assim o ser, mas eu era uma menina imatura e teimosa pra entender. Duas características cruciais na formação de uma pessoa estúpida.

Hoje estou correndo atrás do prejuízo. Tentando descobrir se vou ser capaz de argumentar a favor ou contra essas explicações passadas... Sempre pensei que a inteligência fazia as pessoas mais velhas serem mais bonitas. As jovens não. Estas podiam ser burras feito portas pois a beleza dos corpos por si, somada à luminosidade da juventude seriam mais que suficientes para espalhar prazer ao mundo. Concordo com Wilde que a juventude é um trunfo, mas quando ela acaba acredito que a inteligência e a experiência podem dar conta do recado também. É mais difícil, mas acredito possível. Outra coisa que penso sobre a beleza é que nunca achei que ela estivesse nesse mundo “a passeio”. Vejo uma função no belo. Ele tem o papel de dar alegria aos sentidos. Isso, para mim, é importante demais nessa vida. Mesmo se tratando apenas da beleza física, tão vulgarmente tratada como superficial. Acontece que o ser humano tem inabilidade com tudo que confere poder. E assim como a riqueza, a inteligência, o carisma, a beleza também tem seu lugar como um poder mal utilizado. Desperdiçado por quem a detém e invejado por quem não considera a possuir. “Só as pessoas superficiais é que não julgam pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível, não o invisível...”, diz Wilde. Se você quiser dar uma interpretação moralista, vai chamar Wilde de escroto, fascista. Mas se baixar as armas pode enxergar o que existe de intrigante nessa colocação. As aparências só são superficiais se assim a tratarmos. Claro que acredito em analises aprofundadas, trabalhadas arduamente pelo intelecto. Mas acredito também que cada alma tem sua forma única de absorver o mundo à sua volta. Creio muito que a algumas pessoas é dada a habilidade sutil e refinada de conseguir absorver e compreender o mundo visível como um símbolo que reúne toda profundidade e riquezas de informação em sua mera aparência. Respondendo à Sócrates: pra mim belo é o que é completo (mesmo que suscite novos complementos criativos), o que dialoga com esse seu todo e traduz esse processo em deleite genuíno, que desafia o tempo, para o seu receptor, com o potencial inerente de provocar mudanças de qualquer ordem e intensidade neste.

Um belo dia pra vocês

quarta-feira, 1 de abril de 2009

amor

Amor, amor e mais amor...
Eu só quero me lembrar do que você foi. Tanto amor.
você conseguiu o que mais ninguém eu vi
sabe-se lá o que será de mim que nao sei amar assim!
sabe-se lá o que serão dos outros...
pena eu tenho desse meu viver
que nunca um outro amor igual vai ter

(para o meu velhinho, meu paizinho amado com tanta, tanta saudade)