quarta-feira, 14 de maio de 2008

A fuga de branca



Diante da fuga da gata (Branca) da minha amiga Dri, fiquei a pensar sobre o comportamento dos gatos, dos cachorros e da gente, gente de ser humano mesmo. Branca, a tal gata fujona, apareceu hoje, no jardim do prédio vizinho, assustada, pelo que eu fiquei sabendo ainda por alto. Adriana foi resgatá-la e Branca mordeu a própria dona, fugindo novamente. Pensei no motivo desse comportamento de Branca. Certamente ela não tem inteligência e ideologia suficiente para estar querendo demonstrar sua necessidade de liberdade ou alguma revolta com Adriana. Na verdade ela foi movida pelo instinto selvagem dos gatos que fazem deles criaturas mais difíceis de serem domesticadas que os cães, principalmente quando não castrados e sujeitos ainda aos instintos sexuais que, como já dizia Freud, é um dos mais potentes pra fazer a gente se movimentar. Branca, apesar da comida fácil, da proteção e do carinho certos da casa de Adriana, preferiu se aventurar no desconhecido em busca de um parceiro para cruzar. Talvez movida também por um instinto caçador, no qual eu não acredito muito, pois acho que esse instinto já deve ter sido suplantado pela ração wiskas de cada dia. Apesar de não descartar totalmente a segunda possibilidade pois, como eu já mencionei, acredito que gatos são mais difíceis de serem domesticados que os cães e talvez mesmo a comidinha certa, no pratinho certo não tenha apagado de Branca a necessidade instintiva da caça. Acredito ainda, seguindo essa mesma linha de raciocínio, que os cães são mais domesticáveis porque são mais “neuroticáveis” que os gatos. Para deixar minha situação ainda mais difícil, afinal estou pensando alto sem base científica, política, mística ou qualquer outra “ítica” existente, formulei a seguinte hipótese: o preço da inteligência é a neurose. Explico. Os cães são mais neuróticos porque são mais inteligentes que os gatos, ou melhor, possuem uma inteligência cognitiva mais aguçada e mais apropriada para uma adequação à civilização. Os gatos possuem os instintos menos passíveis de domesticação ou neurotização porque também possuem uma maior dificuldade na apreensão cognitiva do mundo que o cerca. Antes que os gatólotras me massacrem, não estou querendo dizer com isso que os cães têm alguma superioridade em relação aos gatos. Essa é a segunda etapa do meu pensamento. Talvez os gatos, justamente por essa característica mais selvagem, preservem a inteligência que chamarei de instintiva, ou seja, aquela que faz com que os animais sobrevivam às intempéries da natureza. E os cachorros, com sua neurose peculiar, acabem com comportamentos “civilizados” notavelmente burros, como voltar sempre para o dono com uma lealdade cega mesmo quando maltratados (claro que isso também vai ter um limite, afinal toda neurose tem). Estendendo tal pensamento às pessoas, digo seres humanos, nós, penso que a hipótese também se aplica. Aqueles mais dotados de inteligência cognitiva acabam se adaptando muito bem à civilização e os que a possuem em menor escala, acabam preservando melhor a tal “instintiva”. Neurotizam menos, no entanto não são por isso pessoas melhores. Podia parar por aqui porque de fato só queria dividir essa idéia maluca, como outras tantas que tenho, que me ocorreu. Mas quero dizer ainda que pensei também, pelo menos por hora, que talvez fosse bem interessante pra gente (ser humano, nós) conseguir saber direitinho qual é o momento adequado pra usar a inteligência que civiliza e o momento necessário pra usar a inteligência selvagem, a instintiva. Pensei nisso pra mim. E acho que me cairia bem... em relação à Branca, Adriana tem um conflito a resolver. Ela quer a gata ao seu lado, civilizada, mas na verdade, na verdade, ela ama o espírito selvagem de Branca mais que tudo e se reconhece nele tantas vezes, não é amiga? Escrevi isso pra gente, babe. Te amo muito. Beijos