quarta-feira, 18 de março de 2009

recidade

São Paulo, do meu ponto de vista baiano, é a cidade dos erres. Nunca ouvi tanto erre em minha vida! Como essa letra fica em evidência por aqui. Tanto que às vezes me parece outra língua. Eu, baiana que me perco em suas ruas e seus tantos nomes, me encontro várias vezes concentrada no ruído do erre e, ops!, perdi o rumo do que estavam falando. Fiquei pensando como o erre é tão paulista! O erre é irritante, uma letrinha irritante e ruidosa como São Paulo bem sabe ser. O erre é também uma letra de movimento. Faz a língua vibrar pra gente falar ela. São Paulo é vibrante! O erre quando tem som de “rê” de rato parece uma reta, mas São Paulo é como o “rrrr” de espiral. São Paulo: um espiral. É bom pensar na cidade assim.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Tudo que eu tenho (para meu pai)

Eu tenho um milhão de sentimentos tristes, um milhão de pressentimentos de tristeza. Uma bagagem enorme de culpa. Uma caixa bem grande de impotência. Tenho mais um bocado de dor que está junto a um mesmo tanto de amor. Tenho muitos dias pra pensar... muitas horas nos dias. Tenho um mundo de caos e várias roupas no armário sem lugar pra arrumar. Tenho momentos de desespero, outros de aceitação. Eles se intercalam. Tenho anos e mais anos de ausência, tenho uma falta no peito que nunca vai passar. Tenho saudades de coisas que eu não sei. Não tenho apego ao passado. Tenho apego a um futuro que talvez nunca exista e futuros que eu já sei impossíveis... Tenho apego ao que amo. Não quero ter. Quero não ter nada de meu, quero ter o mundo todo. Tenho tanto o que aprender. Tenho meus pais. Tenho meu filho. Tenho por eles o maior amor desse mundo. Tenho um monte de coisas em mim que eu não queria ter. Tenho os olhos cheios de água. Tenho um coração molhado. Tenho pedido à vida mais sabedoria. Tenho pedido sempre pelos meus, mas agora estou pedindo especialmente por você. E eu daria todo o meu castelo (que eu nem tenho) para te ver bem e feliz.

domingo, 8 de março de 2009

"sugar, spice and all that nice..."

E hoje é dia da mulher… olha só. Nada pra dizer sobre isso. Não me inspira nada o dia da mulher. Talvez eu seja muito desligada de qualquer espírito de luta, de conquista, sei lá... Mas tem muito tempo que eu não escrevo e resolvi pegar o gancho, com a licença das minhas companheiras de gênero: o feminino (para que não haja interpretações falhas).

Nós, mulheres, tão cheias de orgulho da nossa atual condição “exerço-vários-papéis-e-sou-foda,” não é? Quanto a mim, não sei ao certo se gosto dessa configuração não. Me sinto muito mais desesperada para obter bons desempenhos em coisas diversas. Isso é o fim pra uma modalidade mais “ou isto, ou aquilo” que é a minha. Mas essa parte eu prefiro pular. Quero falar de outra coisa. Eu sou do tipo que não tem o menor pudor em dizer que quer vir homem em outra encarnação, se houver. Quero sim. Muito mais fácil. Vou sentir falta só das conversas intermináveis das meninas. Poder falar de relacionamento abertamente à exaustão. Isso é legal. Eu gosto e me diverte. Ah, sentiria falta de por um vestido, um salto e maquiagem, de vez em quando também. Mas acho que só. Ser mãe eu não sentiria porque eu seria pai. Não sei como é ser pai, portanto não posso ter medida de comparação. Mas sofreria menos com certeza. Por isso nos deram uma Eva de presente. Para a gente acreditar que sofremos tanto por merecimento, para pagar nossos pecados. Ah, vamos ser realistas! Mulheres sofrem mais que os homens. Sofremos demais com tudo. Biologicamente eu nem preciso comentar não é? Mas tem todo o resto de lambuja. Sofremos pelo que se deve e pelo que não se deve sofrer. Sofremos mais por nossos filhos, sofremos mais por nossos pais e (como não?) sofremos mais pelos homens. Ah, esses homens! Esses são os nossos calcanhares de Aquiles. Os mestres no quesito nos fazer sofrer. Pois bem. Mas isso tudo é também um pouco da poesia de ser mulher. Quando estamos fora do olho do furacão, conseguimos até admitir que todo esse sofrimento vem de mãos dadas com um certo prazer de sofrer. Vem do drama constituinte da personalidade bolinha e cruz. Ê drama! Ele é nossa glória e perdição! Isso tudo eu não acho ruim. Nada disso é o que me faz dizer que eu preferia ser homem. Que fique claro que eu acho o universo feminino esteticamente mais belo, mais rico, mais interessante. Só que também acho mais difícil (e eu sou da opinião que tudo que é mais difícil é melhor hehehe). O que me faz dizer que eu preferia ser homem é a minha preguiça, só isso. Sou uma preguiçosa confessa. Admiro o difícil, mas adoro uma coisa facinha. Sem querer diminuir os bolinha e seta, por favor. Nem vou entrar nesse quesito porque não se trata de valorizar ou desvalorizar qualquer um dos sexos. Estou fazendo uma generalização grosseira. Só para podermos falar sobre o assunto, certo? Para terminar, quero dizer que gostaria muito que as mulheres fossem cada vez mais amigas uma das outras. Sem essa coisa de achar que qualquer garota é uma rival em potencial, ou sem por a culpa na mulher e não no namorado quando o assunto é traição. Os garotos não são nossos inimigos, mas não se trata de uma estratégia de guerra pensar em pedir mais um pouco de cumplicidade entre as mulheres. Acontece que nós conseguimos entender melhor o que se passa com a outra e, mesmo assim, conseguimos ser tão duras e até mesmo cruéis com nossas semelhantes mais semelhantes que temos. Eu, sinceramente, ia gostar de viver num mundo em que as mulheres exercessem um comportamento mais amoroso entre si. Aí, sim! Talvez assim o 8 de março passasse a fazer mais sentido para mim. Por hora é só. E a saudade das minhas amigas é gigante...