sábado, 20 de junho de 2009

juanalândia

Na Juanalândia o tempo se comporta de uma forma bastante peculiar. Os segundos viram minutos. Minutos viram horas. Horas são dias e os dias são eternos... É um lugar mágico sim, meus senhores. Tem bonecas desenhadas em guardanapos, cadernos rabiscados com histórias inventadas na cabeça, chaves esquecidas em balcões, carros deixados nos estacionamentos, muitos livros que nunca foram lidos, músicas melancólicas, nostalgias crônicas, eterna insatisfação, momentos de tédio absoluto, horas de fantasias improdutivas, cenas de filmes de memória, profundas alegrias, tristezas sem fim...
A Juanalânida é onde eu me sinto em casa, mas também um lugar que tento abandonar... ou pelo menos deixar ao lado, em uma realidade paralela.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Encanador

Esse eu escrevi para uma amiga, há um tempo atrás... é meio novela das 7, mas publico agora justamente porque fiz pensando em animá-la :)

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Ela em seu apartamento quarto-sala-minúsculo que só cabe um computador-carroça (e só suporta o windows 98), duas camas de solteiro juntas (formando uma super king de casal), um TV 29 polegadas à prestação, algumas fotos presas na parede com durex ou cola branca mesmo, um baú de roupas, uma arara e sapatos na dispensa da cozinha, está procurando a carteira e outras bugingangas para por na bolsa, enquanto liga pra algum lugar que não atende pelo celular. Ah, a cozinha tem geladeira, na qual ela tem uma garrafa de água para visitas e a dela, para beber no gargalo mesmo. Ela pega um congelado e leva pro microondas que, esqueci de dizer, tem também (só não tem o fogão). Ela se queima quando vai tirar o congelado e deixa cair a comida no chão.

Ela: - Puta que pariu!

Ela: - E esse telefone que não atende.

Indicaram a ela um encanador pra consertar aquela torneira do banheiro que não fecha mais.

Ela: - Aluiu? Que diabos é isso?

Ela ligou pra vários, mas achou tudo muito caro. Tinha um no classificado que não era exatamente um encanador, mas o anúncio dizia: - Disque para Dido “Faz-tudo”. Mulher solteira precisando de ajuda para tarefas masculinas de pequenos reparos em casa, ligar para 8567-8797. Serviço 24 horas. Era exatamente disso que ela precisava... Tá, admitia, tinha uma aura de prepotência machista naquele anúncio, mas fazer o que se ele se encaixou perfeitamente com o que ela pensava: “nessas horas um homem em casa faz falta”.

Dido Faz-tudo (atendendo ao telefone): - Sim?

Ela: - An... é que, você é o cara que anunciou que faz pequenos consertos em uma casa?

Dido: - Eu? Ah, sim, claro!

Ela: - Faz ou não faz, meu amigo?

Dido: - Sim, senhora. Desculpa a desconcentração mas trabalho também com outros projetos... enfim, deixa pra lá... me passa o endereço da senhora por favor?

Ela: - Quanto você costuma cobrar a hora de serviço?

Dido: - Olha, não cobro por hora não. Cobro apenas 20 reais por qualquer trabalho feito. Isso porque também eu não garanto que consiga resolver o problema da senhora. Sabe como é? Eu sou artista, esse trabalho é só um bico pra ajudar a pagar as contas... a senhora sabe, quadros não vendem tanto assim...

Ela: - Tá, tá... na situação atual eu não tenho muitas opções mesmo. Seu preço tá legal, mas sem resultados, sem pagamento não é isso?

Dido: - Sim, claro. Fechado então.

Ela passa o endereço e Dido marca para às 19:00 horas, quando ela chega do trabalho.

Ela passa um dia infernal.

Ela: - Meu chefe quer comer meu cú!

Amiga (rindo): - Nisso eu acredito mesmo!

Ela: - Engraçadinha... ele é gay. Só serve bunda de homem

As duas riem.

Amiga: - Aliás, você anda mesmo precisando arranjar alguém, hein?

Ela: - Nada! To muito bem sozinha. Namorados me deixam maluca.

Amiga: - Hum, sei não, acho que não tem como te deixar pior do que você já é. E depois, eu não falei em namorado... Ah, vai! Um casinho não faz mal a ninguém...

Ela: - Isso é verdade

Elas saem do trabalho e caminham em direção ao metrô. Cada uma toma seu próprio rumo.

Ela chega em casa. Dido já está na portaria com uma caixa de ferramentas que mais parece uma caixa de pintor, toda suja de tinta das mais variadas cores. Eles sobem pelo elevador de serviço. De repente ela se sente incomodada de estar sozinha naquele elevador com ele. Parece que Dido era mais parecido com seu ex-namorado que com o encanador que ela imaginava chamar para consertar sua pia.

Ela: - Então seu Dido...

Dido: - Por favor, tira o “Seu”.

Ela (indignada): - Tirar o meu o que????

Dido: - Calma, calma! Nossa, você não entendeu. Eu quis dizer que pode me chamar de Dido somente...

Ela: - Ah, claro, desculpa. É que meu dia foi terrível. Desculpa... (que louca eu!!! Que vergonha!!)

Dido: - Tudo certo... (mas ele ri por dentro pensando que ela devia tá era muito carente, isso sim!)

Ele vai chegando e mexendo na pia da cozinha. Ela estranha o procedimento já que o problema é na pia do banheiro. Ele parece brigar com as ferramentas, mas ela imagina que talvez o problema seja então maior do que ela pensava já que ele parece ter que mexer em tudo, até na pia da cozinha...

Ela: - Vem cá, a coisa tá tão feia assim? (mas até que esse Dido é bem bonitinho, hein?)

Dido: - Não, só vou dar uma apertadinha aqui e tá tudo certo. (cliente gostosa essa)

Ela: - Como assim? Você vai apertar a pia da cozinha e vai consertar a do banheiro?

Dido: - Banheiro??? Por que você não disse antes?

Ela: - Eu não acredito!!! Por que eu não chamei um encanador??? Você está tentando sabotar a minha casa, é isso? Você acha que isso aqui é uma instalação seu artista plasticozinho de quinta???

Dido (sendo muito irônico): - Quanta descompostura minha senhora, tsc, tsc... qual será o motivo de tanta irritação? Você tem namorado?

Ela: - Ah, que abusado!!! Saia já da minha casa!

Dido: - Olha, vamos parar com isso. Me desculpa, eu só respondi a altura das suas ofensas, mas desculpa mesmo. Eu vim aqui pra resolver seu problema, hã, quer dizer, o problema da sua pia... e eu posso fazer isso fácil, o que te pouparia mais irritações ainda. Só pensei que era a pia da cozinha... eu nunca te disse que era profissional. Mas vai dar tudo certo, acredite.

Ela: - Tá... desculpa também. O banheiro fica na porta da esquerda.

Dido consertava a pia e não conseguia deixar de perceber um pequeno varal com umas cinco calcinhas. Três delas eram de algodão, lisas, normais de quem não tem ninguém pra mostrá-las. Mas uma era incrivelmente sexy. Nada proposital, mas simplesmente era assim: naturalmente excitante. Era uma pretinha sem laços, nem flores, mas com uma tira mais fininha nas laterais e toda em tecido de tela. Aquela cliente gostosa vestida nela, aliás tirando ela, era uma visão no mínimo interessante, aliás interessantíssima.

Ela se encostava no sofá e tirava os sapatos. Olhava Dido de longe e pensava que precisava urgente sair de férias. Precisava conhecer pessoas. Pessoas diferentes, sei lá. As coisas andavam muito chatas em sua volta. Ela queria mudar de contexto, era isso. Achava que uma bolsa para estudar na Europa era uma opção excelente.

Dido tinha um rosto bem típico de sua carreira: barba, óculos e um olhar de menino carente. Mas o corpo não condizia com nada daquilo. Dido tinha mãos grandes e dedos fortes, um antebraço com algumas tatuagens de ninfas. – Quem em sã consciência tatua ninfas no antebraço? Só pode ser problemático esse cidadão... mas eram bem bonitos os contornos dos seus braços, sem músculos desenvolvidos, apenas bem torneados, desenhando uma força de homem na medida certa para segurar um corpo de mulher. E pensamentos assim começavam a provocar um misto de excitação e incomodo nela.

Dido: - Acabei! Pode vir ver. Tá tudo certo agora e você nem vai precisar trocar peça nenhuma.

Ela: - Nossa! Que maravilha!

Dido: - 20 reais ou um chopp no bar aqui do lado.

Ela: - O que?

Dido: - Brincadeira. Olha, guarda meu telefone pra sempre que precisar.

Ela (pagando): - Ótimo. Obrigada e pode deixar que eu te recomendo também.

Dido vai embora pensando que devia ter tentado comer ela de qualquer jeito. Ela o leva até a porta. Fecha imaginando ele a derrubando no sofá, colocando a mão por dentro do seu vestido e pegando em sua cintura... antes da melhor trepada da sua vida.