Ontem estávamos tomando nossa cerveja de final do dia num boteco chamado Violeta, na Augusta. O Violeta não é um pé sujo, nem um famoso, não é dos que parecem vender frango que o gato lambeu, isso não, mas vende cerveja (nacionais) em garrafa das baratas até as mais caras e tem pratos fartos na relação com o preço e petiscos mais em conta também. Nada é maravilhoso no Violeta, nem nada é ruim. Lá pela segunda garrafa, entra no recinto uma garota. Morena, mulata, se eu me lembro bem, de corpo e traços bem desenhados, roupas que mais lembravam as profissionais do sexo que rodeiam a região, mas também nada tão estereotipado: um vestido curto e um bojo nos seios. Ela tinha os cabelos desengonçadamente presos, provavelmente vinte e poucos anos, uma tranqüilidade feliz no rosto. Bonita, bem bonita e alta. Ela pede um lugar em frente à nossa mesa. Ela encontra alguém nessa mesa. Com essa pessoa ela conversa animadamente. Risos de cumplicidade, pausas de ouvinte interessada, às vezes pausas de ouvinte distraída também. Ela pede o cardápio, escolhe sua comida, pede opinião a sua companhia. O prato chega e ela tem uma voracidade graciosa ao fazer sua refeição. Nenhum solavanco, nenhum tropeço, nada em seu desenrolar de gestos e interação com o ambiente era exagerado ou escasso. Ela fluía no espaço, no sotaque gaúcho discreto que pedia ao garçom algo que ele não tinha trazido, na conversa que entoava sem nenhuma dificuldade, ou afetação. Ela poderia ser uma de nós que na mesa em frente tomávamos nossa cerveja, comíamos nosso petisco e conversávamos sobre nossas vidas, nossos amores, nossas dores, nossas cervejas, nossas insanidades até... Ela poderia estar conosco na nossa mesa, com aquele mesmo semblante de amiga com o qual ela, na mesa em nossa frente, tinha uma conversa alegre e descomprometida com sua companhia que ela, e só ela, via. Enquanto nós conversávamos sobre nossos assuntos, tentando esquecer que éramos incapazes de ver o que ela via, sentir o que ela sentia, agir como ela agia, mesmo ela tendo a nossa mesma idade, o nosso mesmo tipo, no mesmo lugar que nós e podendo simplesmente estar ali, conversando conosco, em vez do seu amigo invisível.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Uma história real
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Engraçado,às vezes andando pela rua eu penso se essa ou aquela pessoa pela maneira de se vestir e se comportar poderia ser meu amigo...todos nós temos tanto em comum, mas ficamos sempre restritos a um certo grupo...eu gostei muito dos seus textos, sinceros e diretos.
Eis uma mulher de bem consigo e sua solidão, talvez imposta, talvez opcional.
Já te conhecia de nome e vim dar uma olhada nos seus textos e eles são muito bons.
Meus parabéns e o leitor agradece!
seus textos são legais. :)
Fiquei maravilhada...
ams pra mim, vindo de vc, não é novidade...
Postar um comentário