quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

marcas

Senso comum e batido a idéia de que tudo passa. Ela me contou, no entanto, que quando aquele seu ex amor a deixou, ela se humilhou, implorou, chorou tudo o que podia chorar. Ele deu as costas, viajou, abusou e não mais assumiu como seu o amor que já tinha sido dela. Ela aceitou as migalhas, o pouco que ele lhe dava. Nesse meio tempo, ela conheceu alguém disposto a lhe dar mais. Algo, provavelmente, mais perto do que ela merecia (e digo isso porque não conheço de forma tão íntima o sentimento dos envolvidos). O ex amor ameaçado a procurou propondo até casamento! Sim, tudo passa. Muitas vezes só passa. Muitas vezes com essas reviravoltas surpreendentes. Mas o eco que ficou na minha cabeça, por dias, depois de ouvir a história dela, foi a súplica que ela fez, no auge do seu desespero, ao ouvir do seu analista a sentença de que aquela dor passaria: "me diga um dia, uma data, um prazo..."

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

a passagem

Ela era muito pobre e por isso ele não gostava dela. Ele gostava de mulheres ricas. Da beleza das ricas, do cheiro e do olhar daquelas que podiam mais, como ele mesmo gostaria de poder. Ali, naquelas mulheres, ele projetava seus sonhos de ser o homem que ele gostaria de ser, que ele haveria de ser...
Ela foi embora, portanto. Afinal não havia nada mais ali que segurasse seus braços, que pedisse o seu abraço, nem nada que desejasse seus beijos. Seu corpo era da cor das estrelas daquela noite. Seu céu tinha sombras de luar e seu caminho nada além de penumbras. E era assim que seria. Assim ela iria passar.