sábado, 15 de setembro de 2012

chame como quiser

(suspiros de sábado à noite)

Estou com uma leve dor de elevador. Meu pai deu esse nome a essa coisa que a gente sente que sobe e desce da garganta ao estômago, sabem? Mas ele costumava chamar isso de uma emoção que podia ser boa até. Ele dizia: "filha, quando eu te vejo chego a sentir dor de elevador". É tão bom lembrar disso... mas eu não estou sentindo uma emoção do tipo nessa minha dor de elevador. Só sei que sobe e desce, como elevador também. Mas não há nenhuma expectativa feliz nela, também nenhuma pista de melancolia. Tem alguma saudade, eu percebo. Um vazio onde a saudade pode caber direitinho, apesar de ser essa a emoção mais identificável no meio de centenas de outras que eu talvez não saiba o nome, ou talvez não tenham nome mesmo. Mas aperta e aperta. E falta. Falta demais. É falta demais! Já me perguntei se era só o buraco sem fundo que eu tanto já conheço. Aquele poço escuro cheio de eco que me é tão familiar. Dessa vez acho que não. Me parece mesmo é que algo muito importante, pelo qual eu tinha delicado afeto, me foi roubado. Nenhuma agressão constatada, mas a esperança que estava aqui ficou bem machucada. Um caso complicado, mas, vejam bem, suspeito quem seja o culpado. Sigo as marcas que ele deixou pois elas estão espalhadas em tudo que me tornei, por todos lugares que eu cheguei. Não quero prendê-lo ou confrontá-lo, muito menos colocá-lo no banco dos réus, isso não. Quero entender seus motivos, fazer dele meu amigo, perdoá-lo por todos seus crimes. Quero desvendar seus disfarces, permitir seus mistérios, nas esquinas onde ele se esconde, me encontrar. O nome dele eu não irei revelar pois tenho a convicção de que todos o sabem, preferem, no entanto, não pronunciar. Talvez pelo medo que ele se vá carregando os sonhos que cada pessoa ainda tinha para sonhar. Ele (ou será ela?), meu suspeito, há de um dia se confessar. Eu espero, eu torço, eu acredito. Esse dia fará sol e terá cheiro de limão. As casas estarão de portas abertas sempre e as pessoas cantarão juntas uma mesma melodia improvisada. Assim eu imagino.

Um comentário:

pin hole disse...

Gostei da metáfora "dor de elevador", ando me sentido assim ultimamente, especialmente quando acordo de manhã.