quinta-feira, 6 de junho de 2013

marias e madalenas

E sobre o estatuto do nacituro eu penso da seguinte forma: 1 - toda vítima de agressão merece ser amparada pelos amigos, família, sociedade, inclusive pelo estado. É preciso que se veja prioridades orçamentárias para qualquer medida que desembolsará auxílio financeiro. 2 - Se a vítima for de estupro e isso tiver como consequência uma gravidez caberia à vítima a decisão de manter ou interromper a gravidez e ambas devem ser acolhidas e respeitadas e acho justo que a vítima tenha todo o amparo, inclusive financeiro do estado. 3 - Caso a vítima opte pela manutenção do filho, seja pelo motivo que for, inclusive por suas crenças, religião, essa opção deveria ser respeitada. Se não muda nada para a mulher que decide não ter o filho, se seus direitos de não tê-lo continuariam assegurados, qual o problema da que decide ter o filho receber um auxílio financeiro para criar esse filho? E não vejo nisso um privilégio a quem preferiu ter o filho, pois o dinheiro não é para sustentar a mãe, mas a criança (que nesse caso não seria mais um óvulo fecundado). 4- Pelo que eu entendi, infelizmente, não é essa a proposta do estatuto. Mesmo que modificado, o projeto, apesar de não impedir que a mulher vítima de estupro aborte (a mulher que optar pelo aborto ainda é amparada pela lei), é concebido pro princípios que servem à favor da criminalização do aborto, a qual eu sou completamente contra. 5 - A possibilidade do auxílio financeiro vir do agressor deveria ser uma opção da vítima e não uma imposição de lei nenhuma. Eu imagino que seria mais sensível e humano mesmo é que a mulher agredida pudesse escolher o que ela achasse mais confortável, mais justo, ou simplesmente menos dolorido de lidar na forma como ela irá receber esse auxílio. 6 - Enfim, achismos (que podem mudar inclusive) à parte, quero dizer que ando lendo discursos inflamados por aí que não me fazem sentir que as conquistas e os direitos da mulher estão sendo realmente levados em consideração, que me parecem mais guiados pelo velho fundamentalismo que não aceita as diferenças do outro. Para mim, interessa que as vítimas sejam amparadas (e, apesar de achar um instrumento necessário à organização social, pouco me interessa a punição dos agressores - a ideia de justiça que costuma estar atrelada à punição não me atrai, não me explica e não me conforta). Interessa que as mulheres tenham seus direitos, sua saúde e sua segurança priorizados em relação ao embrião, feto, ou bebê que esteja em gestação. Interessa que as pessoas e, principalmente, as outras mulheres possam respeitar esses direitos e lutar pelo amparo das que são vitimas de agressão. Esse respeito, para mim, começa inclusive na hora de "lutar" por ele. Não entendo as ofensas gratuitas. O uso de expressões como "bolo de células" para falar do óvulo fecundado certamente deve deixar as mulheres que são contra o aborto, mesmo que seja pela sua religião, mais apavoradas ainda com a possibilidade de interromper uma gravidez. Ou seja, mulheres conscientes dos seus direitos, progressistas, libertárias respeitam o direito das suas iguais, "lúcidas" como ela. Deixemos de lado as que são machistas, conservadoras, religiosas e escravas da nossa herança patriarcal, é isso? Essas devem ser desamparadas, ou não ter o nosso respeito às suas crenças ou escolhas? Sou contra o estatuto do nascituro pelo seu princípio, por tocar num assunto tão delicado, como o amparo às vítimas do estupro, de forma tendenciosa, mais preocupada com a normatização de uma moral religiosa do que com garantir direitos e proteção de fato ao ser humano. Sou contra porque o estatuto é um retrocesso em relação a conquistas relacionadas à legalização do aborto, que se faz urgente. Sou contra também argumentos que consideram que dar um auxílio financeiro à mulher que é vítima de estupro e quer seguir a gravidez seria uma maneira de criminalizar as que decidem pelo aborto. E, principalmente, sou contra manifestações que estão mais preocupadas em gritar que estão certas do que em explicar, discutir, refletir sobre o que pode ou não favorecer à mulher, todas elas: marias e madalenas.

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