sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"Pouca fantasia para não fingir"

Os anos que adquirimos com a idade levam nossas fantasias sabe-se lá para onde, mas ponho muita fé que para qualquer bodega não é. Me parece muito mais lógico e racional pensar que as fantasias não morrem em um abismo qualquer da nossa mente com o passar do tempo, mas habitam lugares desses que a gente sabe que existe, mas ninguém nunca viu. Certamente, as fantasias, ao encerrarem seu ciclo natural em nós, devem prontamente ir parar naquelas fazendas mágicas, onde vão os animais que sua mãe não explicou porque sumiram da sua casa, de repente, bem quando estavam velhinhos ou doentinhos. Devem talvez virar estrelinha, como querem as avós nas explicações para os netos de para onde vão nossos mortos. Imagino que as fantasias sejam cercadas de um cantinho acolhedor nessa atmosfera rarefeita que cerca os espaços do nosso esquecimento, de uma redoma de carinho, nessa aspereza amarga que paira na sala de estar da Dona Desilusão. Isso porque ando pensando muito que essa senhora está longe de ser essa mãe-chata-rabugenta-cruel que aprendemos a conhecer. Penso que, como os vários lados de uma mulher, a face mais interessante que a desilusão tem para oferecer a nossa alma pode ser admirada, saboreada, experimentada. Sei que minha forma ainda pequena de espírito não tem instrumentos suficientemente sofisticados para compreender os vão soturnos que desenham a desilusão, muito menos teria uma sensibilidade mínima que apreendesse seus sábios contornos. Mas, em algum lugar da minha também tímida inteligência de ser humano, algo me diz que há que se respeitar aquilo que desconhecemos e há que se deixar o desconhecido se aproximar de nosso campo magnético. Mais do que isso, suspeito fortemente que foi a desilusão que me levou, sem que eu me desse conta, pela mão, pelos vales mais espinhentos da solidão que recebe como bem-vinda a morte. Ouço sussurros então de que devo muito à desilusão, que um dia irei entender completamente porque devo agradecer a ela, com sinceridade no coração. Cada dia que passa tenho cá para mim que o amargo que a desilusão deixa na boca é como o amargor da cerveja: um paladar adulto vai encontrar um gosto de alívio nesse sabor.

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