domingo, 25 de abril de 2010

nota avulsa

Não acredito que o que eu escrevo seja belo e sei que isso pode parecer “falsa modéstia” já que me arvoro a escrever em um blog. Faço isso porque me dá algum prazer, inclusive quando não me dá eu paro por um tempo bem longo, como vocês já puderam notar. Também não me interessa explicar isso muito. Só comecei dizendo o que penso sobre meu modo de escrever porque quero falar sobre coisas que eu leio e acho lindas de se ler. Não me emociona o que não tem verdade. Que fique claro que sou uma fã confessa da mentira. E o que me emociona pode ser uma grande mentira cheia de verdade. Talvez me falte a palavra ideal para dizer a vocês o que chamo de “verdade”. Talvez seja aquilo de menos lapidado pelo superego que esteja refletido em um texto, ou em qualquer obra, qualquer expressão de beleza. Talvez eu queira dar um nome ao que já foi chamado de “belo” ou de “ sublime” ou de “ paixão”, sei lá... Mas nenhuma dessas palavras me ajuda, de fato, a expressar como eu percebo esse momento de flerte entre um objeto cheio de subjetividade, que é uma criação artística, e um sujeito desejante do objeto, ou seja, nós que fruímos a obra. Sobra dizer que o meu prazer, a minha emoção, o meu lúdico se envolve com algo que me parece sair das entranhas de um ser, mesmo que na obra este mesmo ser já me pareça morto, o que também, provavelmente, confere sua cota de beleza à mesma. O que movimenta em mim tudo aquilo que seja orgânico, psíquico, partículas, ou sutilezas de toda ordem, vem do que saiu de dentro, mesmo que o que venha de dentro não tenha absolutamente verdade alguma, por exemplo. Qualquer coisa menos ou mais que isso desanima meus sentidos para o mais prazeroso dos exercícios que eu me proponho a fazer: desenvolver minha sensibilidade. Não sei se isso é coisa somente que me serve, ou tem, para outros, também algum valor. Fica uma observação: na minha mais sincera opinião, até o presente momento, a paixão, o belo e o sublime se dão justamente na conexão. Mas isso é assunto pra uma outra postagem.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ansiedade?

É quando eu quero que o dia passe logo, antecipar meses e meses e ver pronto o que eu devia ter feito neles. É não aguentar mais de vontade de ver um novo ciclo começando. É quando estou entediada com o momento. Quando eu olho a caixa de email cem mil vezes no dia. É aquela hora que eu não mato o tempo, eu procrastino inventando tarefas. É quando o presente não me basta, o futuro me amedronta e o passado me entristece. Quando eu penso em tirar fotos, muitas fotos. Quando eu mal consigo escrever, minhas pálpebras pesam em cima do livro. Minhas mãos se cansam de pedir e ainda assim eu quero aquilo que nem sei. Quando o medo me atormenta e a morte me espreita e eu nunca quero morrer! E o amor que eu amo me parece tão imenso que eu nem sei aproveitar, então me desespero na possibilidade da perda. E eu me desespero, e eu espero e me canso de esperar... É quando a dor é silenciosa, mas agitada, sem a tranquilidade da dor que já se aceitou e por isso mesmo sem se expor. E nem se sabe dor. Um sangue que não circula, um vento que não canaliza, um desfecho que se fecha. Quem sabe o nome disso? Quem é que vai saber?

sexta-feira, 19 de março de 2010

notas sobre o amor

Os dois deitados em uma cama, pós-sexo – no fundo vemos a decoração com posters de filmes –“ Before Sunset”, “E o vento Levou...”, fotos diversas dela (inclusive com ele), uma gravura de Klimt – o beijo, vemos também a frase “all we need is Love”, entre outras parafernálias de quartos.

Ela: Sabe o que eu acho? (acende um cigarro)

Ele: Han?

Ela: Que o amor só existe quando é recíproco...

Ele: (Olhar de “lá vem maluquice”)

Ela: Sério. Pensa... quando você supõe amar alguém que não lhe corresponde, como saber se é amor de verdade e não uma obsessão? O que eu penso é: será que você continuaria mesmo amando esse ser se ele lhe correspondesse? Nunca essa resposta será obtida a não ser que este outro comece a lhe corresponder. Só que uma vez correspondido você automaticamente já não tem apenas a variável “eu amo você”, ta acompanhando?

Ele: Não. (sem interesse e pega uma revista de notícias da semana ao lado da cama)

Ela: Então, aí é que vem o grande lance da coisa toda, quer ver? (sem esperar resposta) No momento em que o amor do outro lhe é correspondido você deixa de amar apenas a pessoa do outro, mas passa a amar o pacote todo, o outro e o amor dele por você. Não é demais????

Ele: Não!!! (enfático, sem acreditar que ela não para de falar e nem está de fato ouvindo suas respostas)

Ela: É uma questão de lógica! Se eu amo uma pessoa sem ser correspondida eu não posso afirmar que é amor. Se eu amo alguém que me ama eu não posso afirmar que amo apenas esse alguém. Então eu SÓ posso afirmar que o amor SÓ pode existir entre duas pessoas, sacou??? “In between”, pegou??? O amor é dialógico! Não é incrível??? (extasiada consigo mesma)

Ele: Não (desistindo de continuar na cama e largando a revista...)

Ela: Onde você vai?

Ele: Banheiro... cagar!

Ela: Ah... tá... (apaga o cigarro, se aconchega na cama e pega seu livro de cabeceira “A dor de amar de Nasio”)

(No rádio-despertador de cabeceira está tocando Harvest Moon – Neil Young)

quinta-feira, 18 de março de 2010

inconsciente

Pessoas no mar
Era uma festa
Não, era um passeio talvez
Pessoas em um grande grupo
como no colégio
(um pedaço falta)
Embaixo da água
no mar
Roupas e artefatos de mergulho
diversão
consertando carros no fundo do mar
diversão
emergimos já era dia
ninguém percebeu o tempo passar
nadamos de volta à praia
ondas grandes de jacaré
mergulhamos para tentar alcançar o ritmo certo
pra não nos espatifarmos na arrebentação
não alcanço
não me machuco
na saída é preciso escalar pequenos bancos de areia
eu opto por um arremedo de escada
degraus em falso
chego ao topo e ajudo os outros com mais dificuldade para chegar
meu irmão está embaixo
eu penso:
- ele está ajudando também
e eu só saio quando ele sair
O mar começa a subir
as ondas chegam bem perto
agora todos que eu ajudava estão em escombros de um ônibus
nenhum indicio de que houve algum acidente
mas o acesso às pessoas se torna difícil...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Diálogos # 2

Esse veio de Ana Todeschi, filha de Chris e Daniel Todeschi, com 1 ano e quase 2:

Chris: Ana, onde você vai?
Ana: Sair
Chris: Com quem?
Ana: Vou comigo, mamãe

(me coube hoje como uma luva)

sábado, 13 de março de 2010

fio da meada

Ando tão do lado de fora do mundo que nem sei
Ando tão longe de mim que sinto saudades
Minha rotina é meu hiato que me abraça tentando me amparar
Penso que vou voltar, acredito de verdade nisso pois quero mesmo acreditar
Meu caminho para fora começou prevendo minha volta heróica ao seio do lar
mas nada é simples em uma jornada dessa natureza, meus senhores! nada.
e a volta que parecia certa se perde nas brumas
para baixá-las há que se usar de disciplina, há que se lembrar do encantamento
Acreditar em magia
Ou quem sabe nada disso
E eu volte no mesmo rumo do acaso em que me perdi
E assim, num leve tropeço, meus pés tocarão o meio-fio
Caminhando meio bamba, tentando me equilibrar no presente-futuro-que-se-faz
Ganhando minha calçada, encontrando o fio da meada

quinta-feira, 11 de março de 2010

desejos


quero fotografar e não escrever